Entenda sobre o momento de unificação de padrões de divulgação em sustentabilidade e consolidação do Climate Disclosure Standards Board (CDSB) e da Value Reporting Foundation (VRF) como IFRS Foundation.
Como vários momentos de crise na história da humanidade, a queda da bolsa de NY, em 1929, demonstrou como a falta de transparência pode levar a consequências desastrosas. Além disso, trouxe um grande aprendizado que resultou na padronização de atividades profissionais, diretrizes de mensuração de resultados e reportes financeiros. De lá para cá, diversas crises, como a de 2008-2009, também demonstraram que bons relatórios de resultados puramente financeiros não são suficientes para que se tenha uma visão global do valor de uma empresa e seus potenciais resultados no médio e longo prazo. Informações ligadas às questões ambientais, sociais e de governança (ESG) também precisam ser reportadas de forma padronizada e confiável.
Diferentemente dos relatórios financeiros, porém, a elaboração de relatórios voltados aos temas ESG apresenta uma maior complexidade, dada a grande diversidade de assuntos e necessidade de interação de equipes multidisciplinares. Para obter dados confiáveis, é necessário contar a experiência de profissionais em diferentes áreas: meio ambiente, saúde e segurança, recursos humanos, finanças, funções executivas e muitas outras áreas.
Como definir o que e como estas informações devem ser reportadas de forma útil, padronizada, permitindo que seja possível a comparação entre empresas com mesmo modelo de negócios ou setor de atuação? Além disso, como satisfazer as necessidades dos diferentes públicos (stakeholders) que se interessam por estas informações?
Para ajudar as empresas a responder às perguntas acima, existem atualmente uma série de iniciativas voluntárias e normas para relatórios de sustentabilidade que são publicadas por terceiros de forma independente. Guias para divulgação como os fornecidos pelo CDP (Disclosure Insight Action), Climate Disclosure Standards Board (CDSB), GRI (Global Reporting Intiative), International Integrated Reporting Council (IIRC), Sustainability Accounting Standards Board (SASB), Task Force on Climate-Related Financial Disclosures (TCFD) e outras são usadas pelas empresas para divulgar informações e enfrentar os desafios gerados pelos relatórios de sustentabilidade, como a falta de consistência, comparabilidade, confiabilidade e utilidade para tomada de decisão.
Durante a Conferência do Clima das Nações Unidas COP26, ocorrida em Glasgow, em novembro de 2021, foi anunciada pela International Financial Reporting Standards (IFRS), responsável por desenvolver padrões globais de contabilidade e divulgação de sustentabilidade de alta qualidade, a formação de um novo Conselho Internacional de Padrões de Sustentabilidade o International Sustainability Standards Board (ISSB) para desenvolver – no interesse público – uma base global e abrangente de padrões de divulgação em sustentabilidade de alta qualidade para atender às necessidades de informações dos investidores.
Além disso, foi firmado um compromisso das principais organizações de divulgação de sustentabilidade focadas no investidor para se consolidarem sob o novo conselho. A IFRS Foundation fará a consolidação do Climate Disclosure Standards Board (CDSB—uma iniciativa do CDP) e da Value Reporting Foundation (VRF), que abriga o Integrated Reporting Framework e os Padrões SASB). A conclusão desta consolidação foi anunciada em 1 de agosto de 2022.
Segundo divulgado pelas organizações que passam a fazer parte do ISSB, este conselho consolidará e construirá sobre as estruturas, padrões e orientações existentes, em vez de criar algo novo. A Value Reporting Foundation, juntamente com CDSB, TCFD e World Economic Forum, comprometeram-se a contribuir com seu conteúdo para a IFRS Foundation e trabalhar para alcançar conectividade entre relatórios financeiros e divulgações de sustentabilidade. Além disso, a Value Reporting Foundation e CDSB se consolidarão na IFRS Foundation fornecendo pessoas e conhecimento para apoiar a criação do ISSB.
Nos meses de junho e julho de 2022 ficaram abertas para avaliação e contribuições a versão preliminar das primeiras normas unificadas pela IFRS: Climate disclosure standard e General Sustainability-related Disclosures. Foram recepcionadas mais de 1.300 cartas de comentários sobre os dois padrões de divulgação de sustentabilidade propostos, que agora seguem em processo de consolidação.
A IFRS Foundation e a Global Reporting Initiative (GRI) também anunciaram acordo de colaboração sob o qual seus respectivos conselhos normativos, o International Sustainability Standards Board (ISSB) e o Global Sustainability Standards Board (GSSB), procurarão coordenar seus programas de trabalho e atividades de definição de normas.
A Fundação IFRS e a GRI reconheceram o considerável interesse público em alinhar, sempre que possível, seus respectivos programas de trabalho, terminologia e orientação, ajudando a reduzir a carga de relatórios para as empresas e a harmonizar ainda mais o cenário de relatórios de sustentabilidade em nível internacional.
Trabalhando em conjunto, a IFRS Foundation e a GRI fornecem dois “pilares” de relatórios de sustentabilidade internacionais – um primeiro pilar representando os padrões do mercado de capitais focados no investidor dos Padrões de Divulgação de Sustentabilidade da IFRS desenvolvidos pelo ISSB e um segundo pilar dos requisitos de relatórios de sustentabilidade da GRI estabelecidos pela o GSSB, compatível com o primeiro, projetado para atender às necessidades multissetoriais.
A unificação de normas que já está em curso demonstra a necessidade e o esforço mundial pela padronização na divulgação de resultados, riscos e oportunidades e com certeza irá trazer benefícios à gestão, utilização, transparência e acesso aos dados. Neste sentido, pressão por relatórios padronizados e unificados, atrelando resultados financeiros e não-financeiros, por uma visão holística do negócio, irá se intensificar.
Qualquer CEO ou líder de negócios hoje tem o enorme desafio de atingir um grande número de metas, alcançar várias formas de valor simultaneamente e, por meio de relatórios padronizados, atender simplesmente a todos os públicos (ou stakeholders): investidores, clientes, sociedade. A aplicação dos conceitos e práticas ESG vem como indicação de solidez, custos mais baixos, melhor reputação e maior resiliência em meio às incertezas e vulnerabilidades do cenário atual.
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REFERÊNCIAS:
IFRS – https://www.ifrs.org/news-and-events/news
Value Reporting Foundation – https://www.valuereportingfoundation.org/
